28/02/2007

Super estimaçoes

Sempre que venho da casa-de-banho, aqui, neste 9º andar, tenho que olhar pela janela, espreitar os quintais e ver um gato. Pelo menos um. Quando venho pela rua fora, tenho que conseguir chegar à próxima tampa de esgoto (que bonito), ao próximo poste, ao próximo marco de correio, antes que o carro que vem atrás de mim me ultrapasse. Quando a minha irmã está para chegar de alguma viagem, tenho que ver algum carro com hc na matrícula até que fique descansada. Quando fazia as minhas intermináveis viagens de camioneta para lisboa, tinha que ver, ao longo do percurso, um bichinho qualquer. Até uma abelha servia. Um pardalito. Uma traça. À 6ª feira, posso tomar café. Mas só à 6ª feira. E só posso respirar depois da luz do cinto de segurança apagar.

27/02/2007

Curriculum

- Instrutora de miúdos carenciados e carentes num centro social em rio tinto.
- Empregada de escritório numa fábrica de confecções alemã, localizada na trofa.
- Entregadora de papelinhos de desconto para embalagens de crystal color e colorelle, em hipermercados distribuídos entre porto, gaia, matosinhos, maia, rio tinto e braga.
- Recepcionista/telefonista na empresa representante das marcas hyundai, lotus, bentley e rolls royce, à senhora da hora.
- Vendedora de bugigangas, jóias e bijuterias para a sra. d.ª maria das dores, no shopping center brasília.
- Trabalhadora numa roullote de cachorros, situada na foz, durante 3 fins-de-semana, para desenrascar a cecília.
- Entrevistadora porta-a-porta para uma empresa de pesquisas de mercado, cujo objectivo consistia em apurar o nº de famílias que consumia regularmente packs de gelados comprados em grandes superfícies.
- Distribuidora de panfletos publicitários entre porto, moledo do minho, monção, ponte de lima e arcos de valdevez .
- Empregada de pronto-a-vestir de marca francesa na loja de sta. catarina, às ordens do chefe isabel, e na loja do arrábida shopping.
- D.j. na noite de inauguração de um conhecido bar de praia na foz, em substituição do pedro.
- Promotora e trajadora de uma horrível vestimenta da marca marlboro, em estações de serviço da a1.
- Organizadora da 4ª semana internacional da publicidade da universidade fernando pessoa.
- Pseudo-estagiária numa filial do porto de uma multinacional de publicidade, como 'copywriter' ou chefe de grupo, era conforme.
- Pseudo-estagiária de uma oficina de artes gráficas no centro do porto, sob a direcção de um chefe ultra-irascível, mas que sempre foi muito simpático e atencioso comigo (?).
- Hospedeira do pavilhão do japão, com muito orgulho, durante a expo 98, em lisboa.
- Funcionária de uma loja de discos de grande reputação internacional, no centro comercial via catarina.
- Bar stewardess a bordo do dawn princess e do sea princess, desde o alasca, passando pelo canadá. califórnia, méxico, costa rica, atravessando o canal do panamá, paragem em cartagena, e terminando nas caraíbas, com paragens semanais na florida, bahamas, jamaica, grande caimão e cozumel.
- Vencedora de 900 contos em passagem pelo quem quer ser milionário de carlos cruz.
- Funcionária das lojas francas de portugal no aeroporto da portela.
- Alugadora de carrinhos eléctricos para passeio, de uma empresa portuguesa controlada por um grupo de supê-tios completamente tresloucados, durante a expo 2000 de hanôver.
- De novo, funcionária de uma loja de discos de grande reputação internacional, mas que acabou por fechar em portugal.
- Guia para visitas em português, inglês, espanhol e francês nas caves de vinho do porto sandeman, em que trajava como o símbolo da marca. Giro, hã?
- Faz-tudo (hospedeira, bengaleiro, paquete, etc) na feira da sap, na fil.
- Apanhadora de morangos numa quinta sinistra, recheada de refugiados, algures em marden, hereford, inglaterra.
- Lavadora de tachos e panelas maiores que a minha pessoa, no prestigiado restaurante do inventor do código de barras, situado no centro de hereford.
- Empregada de mesa num hotel de 3 estrelas em banbury, inglaterra (ride a horse, to banbury cross...).
- Vendedora de timeshare por telefone, de novo em hereford.
- Frequentadora de curso de técnicos de turismo para licenciados desempregados.
- Estagiária como técnica de turismo na filial lisboeta da agência de viagens cosmos.
- Guia para visistas em português, inglês, espanhol e francês nas caves de vinho do porto ferreira, desta vez trajando como uma dama do séc. xix. Cool...
- Frequentadora de curso de novas tecnologias da informação, destinado a jovens licenciados no...desemprego.
- Guia para visitas em português, inglês, espanhol e francês nas caves de vinho do porto offley, onde trajava algo normal, vá.
- Ganhadora de edição do concurso 1 contra todos do malato, onde este senhor me fez levar para casa 33 mil euros.
- Desde então, copywriter ou algo parecido, aqui neste 9º andar, com vista sobre o palácio de cristal.

21/02/2007

Óscares oscares

Adoro os óscares. Adoro a indústria cinematográfica de hollywood. Adoro que seja uma indústria. Adoro uma indústria que cria e fabrica histórias. Que faz tanto dinheiro com isso. Que tem tanto poder. Que mobiliza tantos poderes. Que implanta consciências. Que produz memórias. Que inspira metáforas. Que inventa linguagens. Que se faz com realizadores, actores, produtores, guionistas, técnicos de som, de fotografia, de guarda-roupa, de animação, e adoro que todos possam almejar um prémio de uma vida por isso. Adoro que os filmes sejam bons, sejam maus, sejam o que se quiser que sejam, e ainda estejam tão sujeitos à opinião de cada um. E adoro que cada um tenha a sua opinião sobre cada filme. Goste, não goste, mas que tenha interpretado à sua maneira aquilo que viu. E adoro saber o que cada um pensa sobre aquilo que viu. Eu, regra geral, acabo sempre por encontrar algo que valha a pena ver a cada filme que assisto. Há sempre alguma coisa. Uma imagem, um diálogo, uma música, um movimento de câmara, um olhar, uma personagem, um actor incrivelmente lindo, sensual ou enternecedor, uma actriz tão incrivelmente linda que só me apetecia estar debaixo da sua pele. E, depois, numa grande festa, recebem prémios em glamour, em celebração, em apoteose. E, a cada ano, eu sou daquelas que me ponho a sonhar com o dia em que subindo ao palco, entre lágrimas comovidas e sorrisos eufóricos, exclamarei para a plateia: thank you, thank you all, thank you.

15/02/2007

Dub-lim

Dublim com éme. Ou mê. Se escrevemos londres, também devemos escrever dublim. E glásgua. E hanôver. E ruão. E friburgo. E cidade do cabo. E abijã.
Guiness, stout, leprechaun, pog mo thóin, st. patrick, temple bar, ulysses.
Jameson, whiskey, vice-roy, jonathan swift, irish coffe, michael collins.
Oscar wilde, trinity college, wall flowers, the great famine, shamrock.
Bono and the edge, liffey, hibernia, dubh linn, yeats, o'connell street.

09/02/2007

Sim

Porque uma das condições máximas à vida tem que ser o desejo que ela exista. Um homem e uma mulher não devem ser apenas procriadores. Devem ser pais, em toda a plenitude de vontade, preparação e entrega que este papel exige. Porque decisões tão íntimas não devem ser expostas, avaliadas e julgadas em barras de tribunais, nem ficar à mercê de moralismos alheios. Porque alguma coisa tem que, finalmente, mudar.

06/02/2007

Dubliners

Dia 10 vou a dublim. Como não encontrei o guia do american express, ou mesmo um outro qualquer, e como ficaria insatisfeita por perder outras atracções do país e, por isso, dispensei a compra de um guia de toda a irlanda, optei por gente de dublim. Pronto! Boa viagem para mim.

05/02/2007

O grande nao portugues

Os grandes portugueses. A memória é tão curta ou a ignorância é tão imensa, que só um nome se impõe: salazar. O nome é sonante (é impressionante como os ditadores conseguem ter nomes sonantes: mussolini, franco, pinochet, estaline, pol pot, papa doc, mobutu sese seko, etc), tem uma sonoridade bem mais harmoniosa do que, por exemplo, aristides sousa mendes. De resto, fora a fonética do nome, salazar é uma nódoa de personalidade, comparado com o diplomata de cabanas de viriato. Nem sei porque carga de água haviam de ser comparados, não fosse o concurso. O concurso. Segundo aquilo que já vi, está tornar-se num manifesto viva salazar, em que os espectadores ligam para relembrar os grandes feitos desse grande benfeitor da nação. Ele construiu escolas nos mais recônditos lugares do nosso portugalinho, ele livrou-nos do mal da guerra, ele foi o governante da mais longa ditadura da história da europa, enfim, uau, cool. Mas o mais engraçado foi ouvir um senhor a dizer que aristides sousa mendes nunca poderia ser eleito o maior português de sempre pois nunca tinha feito nada por portugal. Na opinião deste senhor, aristides sousa mendes foi apenas um homem bom (gostei da humildade desta ressalva, quase me comovi) mas não nos deixemos enganar, ele apenas ajudou uns estangeiros, na maioria judeus, a conseguirem uns vistos para irem enriquecer na américa. Uns ingratos que nunca mais quiseram saber daquele que os ajudou, ou melhor, nem sequer foi ele que os ajudou. Não, na verdade, foi tudo obra de... quem, quem? Do bom do salazar. Sim, este senhor veio pôr o ponto no i da nossa história, ao anunciar salazar como o salvador desses tais ingratos judeus que procuravam refúgio no nosso cantinho. Bem, mas então agora mudaram os critérios para a votação? Ou melhor, na cabeça do senhor que ligou, o critério para eleger o maior português de sempre é o seu contributo à nossa nação? Fazer bem a estrangeiros não conta, tem é que fazer bem aos portugueses? Então, já sei quem é. Deixou-nos um espólio cultural, caritativo e científico incomparável, na forma de uma das doze maiores fundações em todo o mundo. Só há um problema: não é português. Nasceu na arménia e renacionalizou-se inglês.

01/02/2007

Disney especial

Os comilões, os astronautas, os sortudos, os cozinheiros, os músicos, os fora-da-lei, os azarados, os milionários, os automobilistas, os feiticeiros, os apaixonados, os preguiçosos, os garimpeiros, os piratas, os jornalistas, os turistas, ...