29/01/2007

Love Boat

Seward. Yukon bar. Zz tops barbudos e tatuados a jogar snooker, índios inactivos de copo na mão e olhar parado, gajas gordas, liquidamente gordas, de olhos desbotados, cabelos pintados de preto nórdico e t-shirts ferozes, a tentarem poses cool.
15 dias.
Vancouver. Purple onion. Magotes de protótipos de bandas grunge, miúdas saídas directas de puff shops, coloridas, freneticozinhos de garrafa de água na mão.
15 dias.
Seward. Yukon bar. 2 e meia da manhã e não escurece.
15 dias.
Vancouver. Purple onion. 2 da manhã, last call for alcohol e está a fechar o tasco.
15 dias.
Seward. Yukon bar. São 3 da manhã e está tudo a rockenrollar. Os filipinos convidam todas as gordas disponíveis para dançar. Os romenos tentam disputar a mesa de jogo com os zz tops desconfiados, mas aceitam-se apostas.
15 dias.
Vancouver. 2 e meia da manhã. Apanhar a boleia de um taxista sikh até um dennis para comer qualquer coisa. E a noite, a estas latitudes, é uma coisa muito breve durante o verão.

24/01/2007

Poema haiku

Na divisória de banho
a tua pele,
gota a gota.

23/01/2007

Divisoria de banho

Que nunca se subestime a importância de uma divisória de banho. O que seria de uma das mais emblemáticas cenas do cinema americano se, no lugar de uma cortina de banho, estivesse uma divisória em vidro temperado e transparente? Mesmo que fosse fumado.

Volto ja

De momento, encontro-me ocupada a redigir um texto publicitário sobre divisórias de banho.

19/01/2007

Vintage datados

Coisas que ficaram guardadas no século XX.

Disco de vinil.
Máquina de escrever.
Telex.
Papel químico.
Fralda de pano.
Cassete.
Gravador de cassetes.
Caixa de furos para ganhar chocolates.
Máquina de rodar para dar bolinha de chiclete às cores.
Foguete de lançar por uns trilhos e fazer não sei o quê que estava sempre presente no que havia de mais parecido com um parque de diversões.
Nota de vinte escudos.
Máquina manual de ralar carne que se prendia à mesa tipo torno.
Gasosa.
Nota de cinquenta escudos.
Master vision.
Zx spectrum.
Cromos para colar com cola.
Renault 5.
Nota de cem escudos.
Cubo mágico.

18/01/2007

Pa, continuaçao

Pá, depois a cena era que os trans-abissíntios tinham chegado à conclusão que o conceito de nação ou país teria que ser remetido à condição de convenção, ou seja, para todos os efeitos, as nações trans-abissíntias deixavam de existir formalmente. Era tipo: as pessoas continuavam a ser o que quisesessem, abissulmanos, abimeuros, abissauros, abissanhezes, mas, em locais públicos, estavam impedidas de ostentar símbolos nacionalistas como bandeiras, trajes nacionais, cantarolar hinos, até falar a sua própria língua podia ser manhoso. E a joséphine tinha que se adaptar, senão, estava fodida. Para o jean-paul era mais fácil. Até na franco-provença um gajo podia andar, naturalmente, de tronco nu. Agora as gajas, nem as putas andavam na rua assim. Que cena.

16/01/2007

Cai o veu

Joséphine era uma jovem oriunda de uma família remediada, que tentava construir a sua vida com o seu noivo de longa data, na sua franco-provença natal. Jean-paul, o noivo, era um rapaz lutador e ambicioso, fluente em abissíntio, a língua mais falada no novo continente da trans-abissíntia. Esta era agora a região mais rica de todo o planeta, para onde convergiam os principais fluxos de migração mundiais, pois os índices de crescimento económico da nova terra eram por demais atractivos, o nível de vida era incomparável, o poder de compra inigualável, a oferta de emprego generosa e irresistível. Na cabeça dos dois jovens provençais, a trans-abissíntia era a promessa terrena de futuro, de dias melhores, e empenharam-se como puderam para alcançar o precioso visto e passaporte obrigatórios para cumprirem o seu sonho. Mas, ao chegarem à trans-abissíntia, descobriram o preço a pagar pela abundância e fartura da nova terra: o preço da integração. De facto, os trans-abissíntios insistiam no direito de exigir tal preço aos cidadãos estrangeiros, para que os seus costumes e modos de vida fossem preservados, e todos os ideais por que tinham lutado e sofrido fossem sempre respeitados, assimilados e, acima de tudo, reconhecidos como produto de uma civilização intelectualmente superior, capaz de distinguir o rumo certo da história com uma clarividência algo divina e inquestionável, como qualquer outro povo habitante da terra instintivamente perceberia. Bom, tudo estava bem, não fosse o facto de joséphine ser uma jovem ocidental de costumes tradicionais, para quem o hábito trans-abissíntio de andar de tronco nu causava algum desconforto. Não tinha nada a dizer em relação ao facto de as mulheres trans-abissíntias o fazerem descontraidamente, ela já sabia que este era o costume vigente da nova terra, mesmo antes de lá chegar. Só não encarava bem quando faziam observações à indumentária que insistia em usar, que continuava fielmente franco-provençal, revelando sempre a sua origem ocidental. Na minha terra, tentava argumentar sempre que lhe sugeriam para tirar a blusa ou a t-shirt, perderia imediatamente o emprego por andar destapada e os senhores ainda apanhariam com um processo por assédio, ou apanharia eu, por atentado ao pudor.

15/01/2007

Que cena

Angela (elizabeth taylor) despede-se de george (montgomery clift): adeus, george.
Volta-se e dirige-se de novo a george: parece que passámos os melhores momentos das nossas vidas a despedirmo-nos.

11/01/2007

Get a life

Mas porque é que, no natal, a estação pública oferece um tempo de antena ao cardeal patriarca de lisboa, onde o senhor, porque lhe apetece, resolve fazer campanha a favor do não para o referendo à despenalização do aborto? À puta que o pariu. O que mais me irritou foi o facto do sr. josé da cruz policarpo começar muito bem, ah e tal, a exclusão social sim senhor, um mal dos nossos tempos... e eu a pensar cá comigo: sim senhor, depois daquela reportagem das pessoas que se vão alimentar aos contentores de lixo dos super-mercados, ainda bem que alguém se lembra delas para falar neste momento porque (pausa). Não é que o caralho do bispo começa a falar nos hoteis que impedem as famílias com crianças pequenas de se acomodarem nas suas instalações? Mas que pôrra de comparação é esta, quando se está a falar de exclusão social? Mas que pena ou compaixão devo eu ter das famílias ricas que levam a filharada para umas boas férias em hoteis de luxo? Isto é o melhor exemplo de exclusão social que o senhor tem para mostrar? Se todos os hoteis implementassem esta política, já o caso seria diferente, mas nem assim seria a melhor ilustração de exclusão social para um alto representante de uma instituição que diz olhar pelos mais desfavorecidos se lembrar, no meio da solenidade da sua mensagem de natal, via rtp. Mas a igreja quer crianças, quer vida? Então porque é que continua a impôr o celibato aos padres? Senhores do clero, senhores... vão foder um bocadinho e arranjem uma vida.

Estava na Tabu

Depois de um post onde não disse nada, resolvi folhear uma revista que a ausência de trabalho me trouxe às mãos. Tratava-se da revista tabu, suplemento do semanário sol. Já no fim da revista, surpreendi-me com uma curiosa coincidência. No artigo da sra. carla hilário quevedo dou com uma coluna intitulada "pessoa profético" onde, a propósito de outro artigo dedicado à blogosfera, de outra revista de outro jornal, no caso o argentino el clarín, se cita a determinada altura bernardo soares, para introduzir uma definição de blogger. Cá vai:
Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem factos, a minha história sem vida. São as minhas confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho a dizer.

Ahahahahah, não é engraçado?

Peço desculpa pelo texto ao melhor estilo matrioska. Sou muito dada às vírgulas.

10/01/2007

Dizer nada

-Tou, Susana, és tu?
-Não. De momento não estou. Deixa mensagem.

Do que eu precisava era deste espaço branco para encher de letras, das que me apetece. Não quer dizer nada, nem quero dizer nada. Quando quiser, ligo eu. Para já, escrevo. Mas sem dizer nada.


fg nsohas j tq g klo tbnoghç fghki aoodngf kk pm wpy k o lm


Como já disse, não disse nada.

08/01/2007

Um dia

Um dia, apercebi-me de que não conseguimos armazenar na memória cada momento, cada instante, cada segundo que passa. Eu, que tenho uma memória de que me gabo, perdia informação constantemente, se nada de significativo marcasse estes agoras sucessivos e esquivos, rápidos, fugaz, passou. Humm... Estava sentada na cadeira de palha, na sala, em frente à televisão, a minha irmã deitada no sofá, atrás de mim. Um belo momento de doce insignificância, quando este pensamento se formou. Decidi: é este, vou gravá-lo e, a partir de agora, quando me lembrar, registarei pequenos filmes dos nadas da minha vida. Também servirão para alguma coisa.
Já me lembrei de fazer isto, várias vezes. Até hoje, o único episódio que ficou devidamente registado foi esse, em que não fazia nada a não ser olhar para a televisão ligada, num dia em que a luz do sol entrava pela sala adentro, coada pelas cortinas, e em que a minha irmã se afundava aveludadamente no sofá, quando essa sala me parecia, ainda, imensamente maior do que quando a vejo agora.

Abrir com Whitman

(...)

Bois que fazeis ressoar a canga e a corrente, ou à sombra descansais,
que exprimis nos vossos olhos?
Parece-me que muito mais do que toda a palavra impressa que na minha vida li.

(...)

Walt Whitman, Canto de Mim Mesmo, Folhas de Erva

05/01/2007

UM BLOG

E pronto. É fodido. Tinha que ser. Tenho um blog.